Envelhecer de forma saudável, quem não quer?!

Envelhecer de forma saudável, quem não quer?!

06 de abril de 2021

Envelhecer

Segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2060, a expectativa de vida ao nascer das mulheres e dos homens devem atingir, respectivamente, os 84,23 e 77,90 anos. Embora toda e qualquer pessoa devesse ter uma vida longa e saudável, fatores genéticos, ambientais e sociais influenciam diretamente no processo de envelhecimento de cada indivíduo. Desta forma, envelhecer com saúde significa propiciar ambientes e situações que gerem qualidade de vida ao longo dos anos.
Em termos biológicos, o envelhecimento é definido como a perda de função resultante do acúmulo de danos moleculares e celulares ao longo do tempo. Neste sentido, viver em um meio oxigenado faz com que estejamos constantemente expostos a substâncias pró-oxidantes, requerendo mecanismos celulares adaptativos para detectar e neutralizar essas moléculas com potencial danoso. Tais moléculas são os temidos radicais livres e espécies reativas de oxigênio, provenientes tanto de processos enzimáticos do próprio organismo como da exposição a poluentes do meio ambiente. 
Desta forma, o estresse oxidativo ocorre quando esse equilíbrio entre espécies pró-oxidantes e antioxidantes é perdido a favor das espécies reativas, culminando em uma série de modificações intracelulares, como peroxidação lipídica e carbonilação de proteínas. A perda desse equilíbrio redox não é um fenômeno raro e ocorre frequentemente em nosso organismo. Isso deve-se às muitas variações metabólicas, patofisiológicas e exposições ambientais a que estamos submetidos.
Adicionalmente, o processo de estresse oxidativo impacta substancialmente em diversas doenças que possuem uma incidência aumentada em função da idade, como, por exemplo, o diabetes, doenças cardiovasculares, artrite e doenças neurodegenerativas.

É possível conter o estresse oxidativo?

Sim! Com o intuito de evitar os efeitos danosos de substâncias pró-oxidantes, dispomos de um sistema antioxidante composto por defesas enzimáticas e não enzimáticas, que atuam de maneira conjunta. As defesas não enzimáticas incluem antioxidantes como o ácido ascórbico (vitamina C), tocoferol (vitamina E), vitamina A e glutationa reduzida (GSH). Essas moléculas podem atuar de forma direta, neutralizando os radicais livres ou, indiretamente, restaurando componentes oxidados do sistema antioxidante.
Somado a estas, temos as defesas antioxidantes enzimáticas, como a γ-glutamil-cisteína ligase (GCL) que atua na primeira etapa da síntese da GSH. De especial importância, estudos têm demonstrado que a ativação da via do Nrf2 (fator nuclear eritroide 2 relacionado ao fator 2) é crucial para a formação de uma resposta antioxidante enzimática induzida por uma situação de estresse oxidativo. Tal ativação aumenta a expressão de enzimas antioxidantes associadas a via do Nrf2, sendo elas: GCL, superóxido dismutase, catalase, glutationa peroxidase, alguns membros das peroxirredoxinas, glicose-6-fosfatase, glutationa S-transferase, sulfirredoxina e tioredoxina redutase. Portanto, a capacidade antioxidante de um organismo irá determinar a remoção das substâncias pró-oxidantes em excesso e prevenir danos oxidativos, mantendo o equilíbrio redox.
Entretanto, no envelhecimento esse equilíbrio encontra-se comprometido, resultando em produção de estresse oxidativo e redução dos mecanismos adaptativos do sistema antioxidante. Neste contexto, o aumento das defesas antioxidantes não enzimáticas através da suplementação alimentar pode auxiliar na redução dos níveis de estresse oxidativo, impactando positivamente sobre a qualidade de vida.
No entanto, cabe destacar, que pouco ou nenhum efeito tem sido observado em termos de longevidade em mamíferos suplementados com antioxidantes. Por fim, uma estratégia promissora para a manutenção dos mecanismos adaptativos do sistema antioxidante, com consequente impacto sobre a longevidade, segue a lógica do “o que não mata, fortalece” e baseia-se no condicionamento por estresse, sendo o estresse agudo proporcionado pelo exercício físico um dos principais e mais efetivos exemplos.
Referências: (1) Kehm R, Baldensperger T, Raupbach J, Höhn A. Protein oxidation - Formation mechanisms, detection and relevance as biomarkers in human diseases. Redox Biol. 2021 Feb 18:101901. doi:10.1016/j.redox.2021.101901; (2) Zhang H, Davies KJA, Forman HJ. Oxidative stress response and Nrf2 signaling in aging. Free Radic Biol Med. 2015 Nov;88(Pt B):314-336. doi:10.1016/j.freeradbiomed.2015.05.036

Tuane Bazanella Sampaio
Tuane Bazanella Sampaio

Professora universitária, cientista, divulgadora científica e farmacêutica, nesta ordem. Possui mestrado em Bioquímica Toxicológica, doutorado em Farmacologia e pós-doutorado em Neuropsicofarmacologia. Atua no ensino há mais de 5 anos e acredita que a educação em ciência é a única forma de mudanças reais em nossa sociedade.

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